No momento em que crescem no país as manifestações de apoio à
Petrobras vinculadas à defesa da soberania nacional, o ADURN-Sindicato e
o Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do Rio Grande do Norte
(Sindipetro/RN) discutiram a importância da estatal para a Economia e o
Desenvolvimento Nacional, com a participação do economista José Carlos
de Assis.
Reunidos na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, na noite desta quinta-feira, 19 de março, estudantes,
professores, jornalistas, intelectuais, artistas e diversos
representantes de entidades e movimentos da sociedade civil e sindicais,
entre outros, disseram um sonoro não à tentativa de desestabilização
política e econômica do País através do enfraquecimento da maior empresa
do Brasil, a Petrobras, de seu corpo técnico e da engenharia nacional.
As falas das entidades promotoras giraram em torno da formação de uma
unidade para a resistência à campanha sistemática da mídia e seus
financiadores, locais e estrangeiros, interessados principalmente em
acabar com o regime de partilha, bem como atacar a Petrobras como
operadora única do pré-sal e as suas políticas de conteúdo nacional.
O vice-presidente do ADURN-Sindicato, Wellington Duarte, ressaltou a
importância da realização do debate “para nos posicionarmos efetivamente
em defesa da nossa maior empresa. A Petrobras não é apenas uma empresa,
ela é um patrimônio que representa muito para esse país e o Sindicato
dos Professores da UFRN não poderia deixar de participar de um evento
como esse”.
Já o representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Jailson
Morais, enfatizou o valor da empresa para o conjunto dos trabalhadores e
da sociedade civil. “Nós, trabalhadores da Petrobras, temos a certeza
de que essa situação passará e a empresa continuará investindo no
Brasil, fazendo com que o nosso Petróleo seja revertido para a educação e
saúde”.
Por sua vez, o presidente estadual da Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB/RN), Moacir Soares, avalia que as
mobilizações já ultrapassam a esfera dos petroleiros e trabalhadores.
“Nós em nome da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil que
entendemos e consequentemente fomos às ruas no último dia 13, numa
grande mobilização nacional, com o propósito de defender essa empresa,
liberta-la dos ataques que diuturnamente tem sido vitimada através da
grande mídia brasileira, da mídia acima de tudo golpista, queremos
alertar os presentes de que este patrimônio do Brasil não pode
evidentemente ser afetado como tem sido”.
O coordenador geral do Sindipetro/RN, José Araújo, classificou o
momento como “gravíssimo”, com possíveis desdobramentos futuros. “Nesses
60 anos de existência da Petrobras, ela sempre foi atacada, numa
tentativa violenta de desmonte, de entrega desse patrimônio nacional.
Então, ao realizarmos este ato, temos a intenção de reconstruir a luta,
num momento de crise criada pela direita, pelo capital externo, com o
objetivo de ceifar o nosso maior patrimônio que é a Petrobras. E a
defesa da Petrobras passa pela defesa da política de conteúdo nacional,
que tem garantido empregos e investimentos no Brasil”.
Tentativa de desmoralização da Petrobrás
Ao contrário do que está sendo veiculado sobre a incapacidade
financeira da Petrobras, a produção de petróleo e gás alcançou a marca
histórica de 2,670 milhões de barris equivalentes/dia (no Brasil e no
exterior). O Pré-Sal produziu em média 666 mil barris de petróleo/dia. A
produção de gás natural alcançou 84,5 milhões de metros cúbicos/dia. A
capacidade de processamento de óleo aumentou em 500 mil barris/dia, com a
operação de quatro novas unidades. A produção de etanol pela Petrobrás
Biocombustíveis cresceu 17%, para 1,3 bilhão de litros.
Os dados foram apresentados pelo secretário de Relações
Internacionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antonio de
Moraes, que destacou a expansão do movimento em defesa da Petrobras em
todo o país. “Começa a tomar corpo uma consciência maior de que é
fundamental não permitirmos a paralisação da Petrobras, como garantia da
soberania do país e a importância da empresa para o desenvolvimento
brasileiro.”
“O massacre que a Petrobras vem sofrendo nos últimos tempos não tem o
objetivo de corrigir coisas que possam estar erradas”, denunciou João
Antonio de Moraes. “Os propósitos são outros. A disputa política e,
principalmente, o gigantesco interesse econômico em torno do pré-sal”.
“Há um movimento orquestrado por interesses privados nacionais e
internacionais contra a Petrobras”, diz Moraes. “O raciocínio deles:
desmoraliza-se a empresa, para aí dizer que ela não pode explorar o
pré-sal e tem de se chamar Shell, Esso, Texaco… Isto é, entregar para
petroleiras estrangeiras o nosso passaporte para o futuro.”
Dos 2 milhões de barris de petróleo que o Brasil consome por dia e a
Petrobras produz, 500 mil barris provêm do pré-sal. Ou seja, o petróleo
do pré-sal já corresponde a 25 % do que é produzido e consumido no País.
Para Moraes, a presidenta Dilma Rousseff deu um importante passo para
a retomada da soberania nacional sobre uma das maiores reservas de
petróleo do planeta, que é o pré-sal brasileiro, quando o Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE) autorizou a Petrobras a explorar
as reservas de óleo que excederem os cinco bilhões de barris que foram
contratados em 2010 através de Cessão Onerosa feita pela União durante a
capitalização da empresa. Trata-se de uma região, cujo potencial de
produção pode ser superior ao do Campo de Libra: entre 9,8 bilhões e
15,2 bilhões de barris de óleo.
“O mercado e as petrolíferas privadas queriam que as áreas excedentes
fossem devolvidas à Agência Nacional de Petróleo (ANP) para serem
licitadas. Mas a presidenta Dilma preservou o interesse nacional e
contratou diretamente a Petrobras para explorar essas reservas
estratégicas, como prevê o Artigo 12 da Lei de Partilha”, enfatizou.
Portanto, “por trás dos ataques sistemáticos à Petrobras estão os
interesses políticos e comerciais dos setores do país que tudo fazem
para impedir que a empresa continue cumprindo o papel estratégico no
desenvolvimento nacional, principalmente após tornar-se a operadora
única do pré-sal”. Segundo o dirigente, a sabotagem do mercado,
derrubando as ações da única petrolífera do mundo que consegue dobrar
suas reservas, evidencia ainda mais a campanha ostensiva contra a
Petrobras. “O que está sendo questionado, portanto, é quem deve ser
beneficiado pela riqueza gerada pelo pré-sal: o povo brasileiro ou as
empresas privadas”.
Moraes ressaltou a importância da Petrobras na política
social-desenvolvimentista e de engenharia do país. “Foram os navios e
plataformas contratados pela Petrobras que recuperaram a indústria naval
brasileira. Em função das encomendas realizadas pela estatal, nossos
estaleiros voltaram a gerar empregos e investimentos, que antes do
governo Lula eram canalizados para fora do país. O setor naval, que
dispunha de apenas 2.500 trabalhadores em 2002, hoje emprega mais de 80
mil e deve contratar mais 20 mil operários nos próximos três anos”,
ressaltou.
Finalizou sua exposição falando da gravidade do momento e da
necessidade de expandir o movimento em defesa da Petrobras. “O momento é
grave. A esperança é grande, porque se nossos avós lutaram pelo que era
um sonho, por uma empresa que não existia, um dinheiro que não tinha,
uma tecnologia que não tinha, por trabalhadores que não estavam
preparados, por que nossa geração não consegue lutar, defender e colocar
na cara dos entreguistas algo concreto, que nós já sabemos como é que
faz e produz? Temos todas as possibilidades de fazer esse enfrentamento.
Mas temos que fazer a escuta nas ruas e nas redes sociais”.
Como contornar a crise da Petrobras?
O momento mais esperado da noite era a palestra do economista José
Carlos de Assis, doutor em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor de Economia Internacional na
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e autor de mais de 20 livros
sobre economia política.
O professor iniciou destacando a importância da mobilização dos
movimentos sociais “pelo propósito de defender a Petrobras de abutres
internos e externos”, e o papel presença nas ruas, “que constitui uma
alternativa eficaz para liquidar o golpe em marcha contra o Governo
liderado pela mídia golpista a serviço do imperialismo”.
José Carlos de Assis destacou a realização, no último dia 25 de
fevereiro, do lançamento da Aliança pelo Brasil em Defesa da Soberania
Nacional, importante evento do Clube de Engenharia, ocorrido no Rio de
Janeiro.
Destacou o caráter das manifestações dos metalúrgicos fluminenses do
setor naval ameaçados em seus empregos pelos desmandos da Lava Jato, que
inauguraram nas ruas centrais do Rio a fase de mobilização de massa da
Aliança pelo Brasil, e os atos realizados em todo o Brasil no dia 13,
convocados pelas centrais sindicais e outras entidades.
Para o economista, “os ataques à Petrobras e aos braços operacionais
das grandes empreiteiras ameaçadas de fechamento, acontecem pela
estupidez dos promotores de apostila”.
Já sobre os protestos organizados no dia 15, disse que mostraram
claramente que a direita não tem um projeto para o Brasil. “Seu objetivo
é a arruaça. O caos. A desordem. Confrontado com isso, nós temos um
propósito bem definido: tomar medidas concretas, imediatas, para
recolocar o Brasil no rumo do desenvolvimento e, até mesmo, no rumo de
uma grande conciliação”.
“Começamos por fórmulas concretas para a salvação da Petrobrás e da
Engenharia Nacional. Deixarei esse último ponto para depois, mas adianto
que temos uma proposta de distinção entre empresário e empresa. Isso
supõe condenação, depois de amplo direito de defesa, de donos envolvidos
com corrupção, porém com manutenção das empresas e dos empregos.
Empresa é instrumento, não um fim em si mesmo. Uma faca serve para
descascar abacaxi ou para matar uma pessoa. Não é criminosa. Criminoso é
quem manipula a faca.”
Para o professor, o Brasil vive um momento de emergência para
assegurar à Petrobras condições para manter seu nível atual de
atividades e para garantir seu portfólio de investimentos. “Como
qualquer grande empresa, ela é um centro de articulação de atividades
econômicas e sociais. Não pode parar. Não pode ser bloqueada. Não pode
ser impedida de cumprir seu programa de investimentos. Qualquer dessas
coisas que aconteça quebra uma cadeia de pagamentos e recebimentos com o
mesmo efeito desastroso de uma quebra de um grande banco”.
E apresentou as propostas para a preservação a curto prazo da
Petrobras em sua integridade, que já foram discutidas com alguns
dirigentes de Centrais Sindicais no Clube de Engenharia no evento do dia
25:
a. Garantia do Tesouro, através do BNDES, de assegurar os recursos
necessários para as necessidades de caixa de curto prazo e para
sustentar os programas de investimento em curso da Petrobras (incluindo
seu entorno econômico que representa mais de 13% da economia brasileira)
tendo em vista o objetivo de evitar perdas na paralisação de obras e
investimentos, preservando-se a estrutura do emprego na cadeia do
petróleo; onde contratos já foram adiados deve-se reverter o processo.
Isso não é nenhuma novidade: foi o que o Governo americano fez com a
indústria automobilística do país em 2009; como fez, de forma ainda mais
acintosa, com o Citigroup e o Bank America, estatizando temporariamente
quase 50% de ações de controle para que não quebrassem;
b. Comprometimento explícito do Governo com o modelo de operadora
única no regime de partilha do Pré-Sal e com a política de conteúdo
nacional de equipamentos, sempre tendo em vista a geração e preservação
do emprego no Brasil;
c. Comprometimento do Governo com a defesa da Engenharia Nacional,
evitando a ruptura da cadeia de pagamentos e recebimentos por simples
suspeitas de irregularidades na operação Lava Jato, colocando como
condição fundamental o pagamento das folhas salariais na cadeia do
petróleo e do setor público;
d. Comprometimento do Governo com as políticas de mobilização dos recursos do Pré-sal para educação e saúde públicas.
Para o professor, essas medidas não violam qualquer dispositivo
legal. “Na verdade, reforçam os já existentes -, resolvem os problemas
de caixa da Petrobras e preservam sua capacidade de investimento. Há
quem tenha a opinião de que, tendo em vista os preços atuais do
petróleo, seria melhor mesmo adiar o programa de investimentos da
empresa. É um equívoco. O preço do petróleo, estruturalmente, tende a
subir. E precisamos da receita futura do petróleo que estiver acima de
nossas necessidades para podermos crescer”.
Houve unanimidade nas análises a respeito do grave momento político,
que inclui a tentativa de um golpe branco, em detrimento de princípios
constitucionais elementares e do Estado democrático de direito.
De Natal, Jana Sá
0 comentários:
Postar um comentário